Passado um mês da chegada da WAY à Ilha de Moçambique, damos por terminada a fase de prospecção. E os resultados são animadores: como sempre quisémos, trabalho não falta!

No campo da Educação, é difícil escolher por onde começar: as escolas precisam de obras, e as cabeças também. Planeamos, para o ano que vem, sessões de formação aos professores, que apresentam falhas graves, a nível académico e pedagógico. Têm que ver os apontamentos que eles passam aos alunos!
Já os estudantes mostram seríssimas dificuldades – não é, de todo, fora do comum conhecer putos do 4º ou 5º ano que mal saibam escrever, alunos do 8º que não saibam os continentes do mundo ou jovens do 10º incapazes de articular uma frase em Inglês ou calcular (-8 + 5). Ah e é verdade… as turmas têm em média 60 alunos – o dobro de em Portugal.
Por outro lado (e isto é dramático), a falta de material é um impeditivo absoluto; não há manuais, livros, enciclopédias, dicionários, cadernos, lápis, canetas…


E a verdade é que a escola não serve só para aprender as matérias. Aqui, onde se pensa que a SIDA é um bicho de quatro patas que ataca à noite e um ataque epiléptico é contagioso, urge ensinar as boas práticas sociais e, acima de tudo, passar a mensagem: a educação é essencial.


Já na área da Saúde, a situação é mais assustadora. O Hospital da Ilha de Moçambique é o mais antigo do País, e dizer que está a cair aos bocados é fazer-lhe um elogio. Não só tem cabras (!) lá dentro, como o sistema de canalização não funciona (quando os internados – incluindo grávidas – têm que ir, vão à praia), e foi-nos dada uma lista de material hospitalar em falta… com mais de 50 itens, que vão dos geradores eléctricos aos baldes para “casas de banho”.




Sabendo que um dos maiores problemas da Ilha é a sua superpopulação, é obrigatório ajudar os serviços públicos da parte continental. Vamos contribuir para o desenvolvimento das maternidades (evitando também os partos caseiros) e das escolas na zona do Lumbo, a 5 km da Ilha.



Maternidade no Hospital do Lumbo


Feito, feito até agora? A reparação do telhado do “Lar do Zacarias”, onde vivem agora abrigados , 60 estudantes.


Feito a partir de agora? Ainda nos faltam as áreas do Turismo e Ambiente.

Aqui vão mais algumas fotografias. Não digam que o Stefano não tem jeito!




África nos Sentidos


Não encontro melhor maneira para explicar como é estar em Moçambique. Espero não aborrecer ninguém!
Nos ouvidos, quer queira quer não: A qualidade infinita da música, as gargalhadas, os barulhos das cabras, galinhas e porcos, o Português e o Macua misturado pelos negros, os desconhecidos que nos chamam por sermos brancos (é estranho passar tanto tempo a ser sinónimo de dinheiro), as histórias macabras, as superstições.
Aos olhos, basta estar atento e contemplar: As cores fortes, as areias virgens, as roupas rasgadas, as casas simples, a iluminação gratuita da Lua, a pobreza, sempre a pobreza, o pôr-do-sol diferente do anterior, os alunos sempre fardados, as palmeiras e os lagartos, os rituais e os esforços.
Na pele, branca e frágil: O quente do Mar, as mãos ásperas e a força dos trabalhadores, o desconforto dos transportes, a poeira no ar, as carapinhas nas cabeças, a força do Sol ao meio-dia, as picadas dos mosquitos, a dureza do chão, a densa vegetação.
Na boca, e aproveitando o privilégio de ter sempre disponível uma refeição: A frescura das mangas, ananases e papaias, a simplicidade da chima, a cana-de-açúcar, a mandioca, o caril, o peixe e o marisco (a preços simbólicos), os refrescos e a água (que têm tanto mais valor aqui!), a poeira na garganta, e todos os dias, a galinha!
Pelo nariz adentro, quando menos espero: O fumo das queimadas (há que aproveitar antes que chegue a época das monções), o suor dos negros, os esgotos, as fezes largadas em qualquer lado, o peixe e o mar, as refeições cozinhadas ao pôr-do-sol, os motores em esforço.

Sabem aquele encanto de África de que tanto falam? Aquilo que vicia quem cá vem, aquela magia selvagem e toda a sua autenticidade? É tudo isto mais qualquer coisa, não sei é bem explicar o quê.

1 comentário:

LM disse...

O vosso projecto é tão interessante como atraente. Acho que vai ser inevitavel passar uns tempos aí para ajudar no que for preciso... Um grande abraço de admiração por todos, e sinceros parabens pelo sucesso que já estão a ter e que certamente vão continuar a ter.